Prosa e outras autorias

Encontro marcado por @MCestari

Queria escrever algo simples, que da garganta desatasse o nó. Algo assim que viesse em cifras, em uma escala de Dó menor. Andei pra tudo que é lado. Fui indo de estado em estado. Vivi o algo fútil da vida. Passei pelo inusitado. Tropegando embriagado, em palavras de outras línguas, de beijos de outras culturas, do tédio e das amarguras. Das longas vidas vividas, das preces e das morridas. Da esbórnia que farta o Rei, das amantes com as quais sonhei, de coisas que eu nem mesmo sei, e fui indo de estado em estado. E se aqui eu era amparado, logo ali me mantinham calado. Muito medo tiveram de mim, quando meus olhos flertavam um fim, mas depois se acostumavam, e então me desamarravam. Nunca parei de andar, mesmo sem ter onde estar. Eu era do mundo que eu tinha, do pé descalço no barro, das nuvens em forma de
bicho, do cheiro de grama cortada, dos gritos da criançada, do ar que me enchia a alma, e pairava essa toda calma. Decidi então comprar asas. Que me elevassem acima das casas, que me elevasse acima das coisas, que me elevasse acima de mim. Pra quem sabe encontrar um fim. E foi assim que eu cheguei aqui; plantei algumas estórias na mesa de jantar, ajudei com a louça, com as coisas difíceis de se entender e as simples também ajudei. Me deram boa comida, com cama já bem dormida. Acordei diferente do sonho, acordei diferente da vida, percebi que esse estado que estava, só tinha passagem de ida.
Escrito por Marcos Cestari.

Deixe um comentário